Trinta e nove anos depois de ter passado 72 dias ao relento, numa montanha coberta de neve cercada por outras tantas na mesma situação, sem nada além do calor humano de 15 outras pessoas que, como ele, sobreviveram a um acidente de avião na Cordilheira dos Andes ; de ter se visto obrigado a ingerir carne humana dos cadáveres de colegas do mesmo time de rúgbi do qual fazia parte, ele disse: " a pessoa que se queixa da vida na verdade está bem, porque, quando não está, ela cerra os dentes e segue em frente"
Difícil comparar o que esse
homem vivenciou, no final de 1972, a qualquer outra situação. Comparações , por sinal, deveriam ser abolidas da humanidade.
No começo de setembro de 2010, senti algo na alma difícil de compreender ou explicar. Era , certamente, o que as pessoas entendem como amor, paixão. Como comparar aquela sensação com a que vivenciei alguns anos antes, quando conheci o cara que seria meu marido? Como seria possivel ou plausível alegar que aquilo (o primeiro amor) ou aquele outro ( o último amor) eram " a mesma coisa" ? Nada se compara, nunca, muito menos algo que se sente. Seria, se não imoral, no mínimo desrespeitoso.
Por exemplo, como posso eu comparar o que sinto agora em relação a qualquer outro momento de minha vida, como? Da sensação posso falar. É algo parecida com a que experimentei quando saltei numa espécie de bungeejump, instalado num parque de Sao Paulo. Só que a queda livre, naquele caso, era uma grande diversão, era segura, eu quis entrar nela sabendo que depois de alguns minutos estaria rindo da situação.
Agora nao.
Eu nao saberia dizer o tamanho dela, mas sinto que nao acaba. Começou dia 24 de dezembro e nao parou até agora, 8 de janeiro.
E nao vejo o chão nem ninguem por perto com equipamento de resgate ou algo do gênero. Ao contrario. Tudo o que percebo sao sinais de que a coisa vai de mal a pior.
Comprei um maço de cigarros, dia 26 de dezembro., isso depois de 15 meses sem lembrar que isso existia. Nao sei bem o motivo, mas bacana certamente não foi. Hoje na embalagem faltam quatro unidades, a ultima delas joguei no vaso sanitário depois da primeira tragada. Tentei negar, mais uma fraqueza, mas logo em seguida desisti. O que a humanidade ganha com isso?
Pela primeira vez na vida, nao sei o que fazer, que rumo tomar, que músculos mexer, que palavras dizer, em que lugar ir ou ficar. Não estou em posição de me queixar; é hora de cerrar os dentes.
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