...vira e mexe, vejo algo ou penso numa situação qualquer que me remete ao arranha-seus. Infeliz e invariavelmente, quando isso ocorre, tô longe de um teclado. Já rolou de eu pegar um papel e começar. Mas acaba que eu perco o dito cujo e já era: fica por isso mesmo...
Fiz uma consulta médica e a doutora disse que ‘perder’ a memória é bastante natural levando em conta o momento por que estou passando. É uma bola-de-neve: quanto mais eu fico pra baixo, mais esqueço das coisas...
Ultimamente, tenho forçado a barra da minha cabeça. Tenho evitado dar espaço aos ‘deixa pra lá, não lembro mesmo’.
Não!
É como se fosse um desafio: tenho de lembrar. Afinal de contas, não sou louca nem estúpida – e, apesar do avançado da idade, ainda não esclerosei.
Numa daquelas resoluções de Ano Novo, decidi voltar à atividade física. Comecei com algumas caminhadas no Ibirapuera, logo cedo, 7h. Mas não dei seqüência. Pensei que melhor seria um esporte na água, já que estamos no verão, eu adoro uma piscina quentinha e blá, blá, blá. Parei numa academia e tomei informações sobre preços, dias de aulas etc. Nada extorsivo, perto de casa, bom aspecto de higiene. Estava decidida: ia voltar à hidroginástica e, quem sabe, arriscar um alongamento, musculação...
Voltei pra casa e até montei minha mochilona: toalha, frasqueira com vários xampus, condicionadores, pente, elástico de cabelo. Nem precisaria comprar touca, meia e maiô pois a indumentária que descansava havia quase dois anos no fundo da gaveta permaneceu em bom estado, havia sido renovada pouco antes de a antiga academia fechar as portas em razão da falência.
Lembrei como era bom descer a perpendicular de casa todo dia, em meio aos alunos da faculdade que dia sim, outro também matavam aula. E da subida, na volta, toda fresquinha, de cabelos molhados e cheiro de banho, huuuuuuuuum...
E minhas velhinhas, então? Todas sexagenárias, 12 portadoras de um bom-humor contagiante, me chamando de “a menina” – afinal, apesar de balzacona, tinha idade pra ser filha de qualquer uma delas. Aliás, era divertidíssimo quando eu dizia pra elas que uma delas seria minha sogra (convenhamos: em certos casos é bem melhor escolher primeiro a sogra do que propriamente o marido, hehehehe.)
É como se, de repente, eu as visse diante dos olhos... Sim, ainda agora eu as vejo.... aquela bonitinha de olhos azuis, e também aquela de olhos amendoados e dentes amarelados, a outra com cabelo pintado de acaju, a do sotaque português...
Convivi diariamente com elas durante três anos. Todo dia, brincando na água, dando risada, cuidando da saúde... Como é triste não lembrar seu nomes!
E foi assim, com essa desculpa bem pra lá de esfarrapada, que larguei o projeto atividade física 2008. Pode ser que a coisa mude, estou primeiro exercitando a cabeça pra, quem sabe depois, exercitar a bunda.
Já conquistei um certo progresso; agora pelo menos eu consigo
querer mudar...