inveja de paulistano

Um caríssimo colega sugeriu há pouco que "paulichta" sente inveja do Rio de Janeiro. Sempre considerei o Rio simplesmente belíssimo. Isso foi motivo de várias desavenças com conterrâneos xiitas, por assim dizer. Os menos bairristas ainda tentavam argumentar: "não é nada contra a cidade, o povo de lá é que não desce". E eu, firme e forte, alegando que havia uma dose exagerada de provincianismo nisso, que existem criaturas 'malas' de todas as naturalidades - no Rio e fora dele -, que afinal somos todos brasileiros e que deveríamos nos orgulhar da Cidade Maravilhosa e blá, blá, blá.

Convivi por vários anos com alguém de lá. Ele e sua família eram tipicamente cariocas: alegres,
debochados, o sotaque característico. Vez por outra, faziam alguma 'comparação' (se é que é
possível comparar um diamante com o ouro...). E riam, jocosamente, sem maiores discussões, cariocamente. Pouca coisa mudou em minha opinião nesses últimos anos em relação ao Rio, mas tenho de admitir que alguns cariocas 'perderam a mão'. Imagino que, por conviverem com tantos desmandos em sua ainda bela cidade, tendo de defendê-la como fariam com um filho que se meteu em encrencas, alguns deles tornaram-se irascíveis.
Ultimamente, tenho notado reações novas, que nada têm a ver com a boa e velha malandragem dos cariocas da gema.
Paulistano que é paulistano não perde tempo com esse tipo de conversa. Só quando sobra algum e, invariavelmente, pra fazer o visitante sentir-se enturmado - seja do Rio, do Sul, do Nordeste ou de Goiás... E é desagradável quando o 'hóspede' reage mal, quando ofende nossa casa. Ao nosso ver, trata-se de uma postura no mínimo indelicada a de cuspir no prato em que se come. São bem-vindos e criticam? Que feio!!
Por essas e outras, jamais verão suas cidades chegarem à grandeza de São Paulo. A arte de ser maior, de liderar, demanda sabedoria. Por isso, São Paulo é o que é, por causa da inteligência dos que aqui nascem e crescem - e que, inclusive, aceitam a mão-de-obra de fora, geralmente mais barata, para trabalhar em favor de nosso crescimento.
No caso dos filhos da capital fluminense, nem tudo está perdido. Há os cariocas legítimos, que conseguem fazer da insolência uma característica apaixonante. Como o motorista do táxi que nos levou da Barra ao Santos Dumont, no final do ano passado. O sujeito estava se divertindo com os quatro paulistanos dentro de seu carro. Risonho, simpático e extremamente veloz, o rapaz mandava ver quando avistava algum motoqueiro pela frente. Metia o pé no acelerador, eventualmente a mão na buzina, e ai do motoqueiro se não saísse do caminho. E tripudiava das histórias oriundas de Sampa, onde motoqueiro faz o que quer.
"Aqui nu Ri-u é u seguintch: a lei du maich fortch. Eu não me meto a beichta com caminhão, maich motoqueiro ninhum se mete a beichta cumigu, valeu? Aqui não é como em São Paulo, que motoqueiro manda, não!"
Nesse aspecto, reconheço: que in-ve-ja!!

4 comentários:

Anônimo disse...

Adorei o texto!
Sou uma paulistana que gosta muito do Rio também, mas de férias. É muito gostoso andar no calçadão, tomar sol de manhã (sou branquela sim, pois uso protetor!)
A paisagem da cidade é linda! para quem não conhece, vale a pena!
beijos
Marcela

Anônimo disse...

O Rio é lindo mesmo, reconheço, mas eu não conseguiria morar lá. Gosto das pessoas, daquele jeito brejeiro deles. O problema é que eles tiram muito sarro com o nosso jeito e chega uma hora que, convenhamos, enche o saco...

Silvana Monteiro disse...

Sabias palavras do taxista gente-boa...
Que o Rio é lindo, ninguém tem o direito de questionar...
Uma vez ouvi alguém dizer: "é lindo... todo lugar onde os morros encontram o mar é lindo"...
Realmente...
Pena que no RJ a gente mal consegue ver o verde dos morros, ocupados por telhados e mais telhados.....

Unknown disse...

Rio, São Paulo, Brasilllll....
Uma bala entra por um ouvido e saí pelo outro como diz o Zé Simão...
Acho que, sem a mínima frescura, ainda prefiro os ares de uma ilha grega e com muito menos deboche, seja ou não bairrista, como a do taxista...
A malandragem carioca já se foi faz muito tempo, hoje o deboche é de nós mesmos e quem lucra pode ser o alagoano Renan, a sei lá o que Mônica Veloso ou o pernambucano-sãobernardense presidente....
Só sei que todos nós perdemos com esse deboche escroto...
Mas, vai ver que sou eu quem anda mau-humorado...e não consigo mais ver beleza nenhuma em nada disso.