Dada a largada

...e não é que me pegaram? Fugi tanto quanto pude desse tipo de coisa, diário, blog, orkutio etc. Mas o que seria de mim não fosse o maledeto mundo virtual? (Detesto essa expressão, não tem nada de virtual aqui!) Tô mal-humorada hoje, não escolhi um bom dia pra me apresentar. Ou vai ver que escolhi; assim mostro de cara um traço tipicamente paulistano: a ciclotimicidade - desconfio que acabei de inventar essa palavra... Quero dizer, somos assim: um dia estamos de bem com a vida, noutro pensamos em suicídio. É resultado da carga de informação que nos envolve, a cada esquina. Literalmente.
Ontem, no vermelho do semáforo, fui abordada por um homem, trinta e poucos anos, em sua cadeira de rodas. Trazia no colo uma cestinha com bons sete tipos de balas pra vender.
É uma sensação estranha quando esse momento ocorre. O amarelo acende, não vai adiantar acelerar, e você já vislumbra o pedinte ali no meio-fio, a postos pra colar na tua janela e te aporrinhar com seu indefectível olhar triste - e não há escapatória. É o efeito-zagallo: você vai ter de me engolir!
Já li no jornal, coisa de uns dois anos atrás, que um motorista foi assaltado por um cadeirante... em que mundo vivemos!! Mesmo assim, a eles não fecho o vidro. Ao contrário: dou aquele olhar sem jeito e tento me livrar do embaraço. Isso na maioria das vezes. Mas, como sou ciclotímica, ontem resolvi prestar atenção no sujeito. "E aí, linda, que tal adoçar a vida um pouquinho? Sorria, a vida é bela!" Frase feita, sem problemas. Sei disso, sempre soube: para o pedinte serei sempre linda. Quer saber? Fez bem ouvir aquilo... eu no meu carro, toda enfadada com meus problemazinhos sem sal, filosofando no farol e acatando ordens (de sorrir) de um completo estranho!! Mais que isso: por um momento, tive vontade de estacionar, sentar naquele meio-fio e passar o resto do dia assistindo ao trabalho do meu amigo. Será mesmo que todas são lindas? Será que ele preserva o discurso desde quando pega no batente até o final da jornada? Onde ele faz xixi? Como reagem os abordados, sorriem como eu? Destratam, compram, agridem, acariciam?
Sei lá!! E nunca vou saber. Nunca vou sentar no meio-fio nem sequer papear com o pedinte. Imagina eu, depois, chegando no meu local de trabalho com a bunda suja por ter-me entregue a devaneios sócio-antropológicos!
Mas o que era mesmo que eu tava falando? Deixa pra lá: pintou a luz verde...

4 comentários:

Anônimo disse...

Mas que bela estréia!
Você me fez lembrar de um adesivo que vi uma vez, no vidro de um carro:
"Não sou seu tio, não tenho trocado e odeio malabaristas!"
Mas cadeirante,também já me tornei amigo de um. Ele está sempre na igreja de Moema, vendendo trident, balas etc. A primeira vez que me "abordou" me chamou de sãopaulino. E não é que acertou?! Bjo.

Anônimo disse...

Pô, Wã... Senta no meio fio e bate um papo! A bunda pode até ficar suja, mas a cabeça vai estar mais recheada de histórias...hehehe... Veja bem, é só uma sugestão!! hehehe.
Beijos a todos os arranha-seus!!

Anônimo disse...

Ai ai ai, cada vez mais doidinha...
Tá bom, só falta o meu, vou respirar fundo, e vou, juro que vou.
beijos
Marcela

Silvana Monteiro disse...

Peraí... comprou a bala ou não????
Acho que sou mais dura...
Depois que, Graças a Deus, consegui meu ar condicionado, meu vidro passa dias fechado!
Nem mesmo pra cadeirantes.. Até pq geralmente no farol eu tô com algum livro ou revista nas mãos... Em muitos dias, o pouco tempo livre que tenho pra ler...
Eta vida corrida!