Roubaram meu assalto!

...perigoso, isso aqui. A gente começa, meio que por força de um compromisso, e corre o incomensurável risco de tomar gosto pela coisa. Eu me conheço, sei que não passarei por aqui com essa freqüência inicial daqui a dois, três meses. Mas o que ocorre agora é que venho dar uma fuçadinha, de meia em meia hora, pra acompanhar o movimento do bagulho.
Tava no carro, hoje cedo, pensando em como diversificar. E veja qual não é minha constatação: estou falando mais uma vez de uma historieta que começou dentro do carro.
Penso que não vai ser fácil escapar dele, digo, do carro. Numa aritmética meio elementar, constato facilmente que passo um oitavo de meu dia enfurnada nele. E olha que a coisa mudou bem de uns anos pra cá. Em meu endereço anterior, eram cinco, seis horas por dia para ir e voltar do trabalho...
As janelas de meu carro têm um filmezinho que escurece o interior, sinto-me menos exposta. Mas bom mesmo era nos tempos da bleiser (escrevo assim por pura babaquice nacionalista). Nela sim, eu me sentia inatingível! A sensação era a de estar uns cinco metros acima do nível do asfalto, poucos eram os que chegavam perto - acho que minha bleiser tinha cara de mau.
O que eu quero dizer é que a bordo dela nunca tive o medo que tenho hoje, ainda que meus vidros atuais sejam fumezinhos.
Nunca fui assaltada. Houve um episódio tão insólito nesse sentido que não tive como me considerar a vítima. Aconteceu numa curva que fica ao final da Avenida dos Bandeirantes, que dá acesso à Marginal Pinheiros. Quem conhece São Paulo sabe bem como é o local a que me refiro. A gente fica ao lado de uns viadutos, uns pilares de concreto à esquerda do fluxo de onde, vez por outra, saem uns pedestres suspeitos. Obviamente, o termo fluxo é aqui totalmente inadequado. O trânsito não flui ali, nunca! Ou seja: os motoristas ficam à mercê dos tais 'pedestres' sem ter pra onde escapar.
Naquele dia, estava eu trocando da CBN pra Eldorado - ou vice-versa - quando olhei pra janela ao meu lado e nela vi debruçado um moço japonês. O japa balbuciava algumas palavras que pra mim soavam ininteligíveis e eu fiquei lá, olhando pra cara dele. O pobrezinho percebeu que eu não tava entendendo nada (só ouvi algo parecido com a palavra 'carteira', mas não foi o bastante para alterar minha expressão facial). Ele insistiu pela terceira vez em seu incompreensível discursinho que, suponho, tenha sido o anúncio de um assalto, e eu lá, a boca entreaberta. Resumindo: o nipogatuno desistiu de mim. E saiu correndo por entre os carros. Sabe-se lá o que passou pela cabeça dele. Na minha, nada pareceu mais patético que um larápio japonês que fugiu de mim e não levou absolutamente nada - a não ser, meu primeiro assalto...

2 comentários:

Anônimo disse...

É, Westphal... Isso realmente não é justo!! Você tem um assalto ali, inteirinho pra você, e o japa foge?? Acho que foi o seu ar aristocrático que intimidou o nunsei... Que seja sempre assim!! Amém!
Beijos.

Silvana Monteiro disse...

Gostaria que o motoqueiro que levou meu celular uma certa vez fosse japonês...
Ops.. até rimou.. rsrsrs...
bjinho,