O paulistanês nosso de cada dia 1

“Olha o foto que me tiraram, Wania” disse-me o "scavurzka", atirando à mesa, em minha direção, um pacotinho de 3x4. Minha reação, tipicamente paulistana: “Me tiraram, belo?” Em seguida entrei aqui pra registrar minha autocrítica. Que pedante que eu sou!!! Reverberei debochadamente como se eu mesma não cometesse meus deslizes paulistanescos.

Tudo bem que nossa maneira de falar é uma referência nacional. Mal comparando, a pronúncia do português paulistano é o que os norte-americanos chamam inglês standard, aquele que todo mundo que estudou um pouquinho entende. Basta assistir ao Jornal Nacional, da Rede Globo, para reconhecer o empenho de Fátima e William para camuflar seus esses e erres, típicos de quem vive no Rio de Janeiro. E admitir que eles emitem as palavras exatamente como qualquer paulistano minimamente cuidadoso com a língua.

Hoje, no trabalho, um colega chamou atenção para a proliferação do meu “meu”. De acordo com a observação dele, em cinco minutos, pronunciei uns vinte “meu”. Confesso que passei a policiar minha dialética. Mas... até que ponto?

Um legítimo paulistano não vai pronunciar nem a letra O nem a letra E ao final das palavras. Aqui, é TOMATI (mais precisamente TOMATchI). Mas até aí, convenhamos, só paranaense pronuncia corretamente o nome da fruta. No caso do O final, quase sempre emite-se o som de um U: agostU, setembrU. Porém (sempre há um), observe-se o nome da Cidade Maravilhosa:
Rio de Janeiro.
Em São Paulo, a gente fala RiU de JaneirO (Meno male que fluminense, aquele que é carioca mermo, que refere-se à própria cidade pronunciando um hiato que simplesmente não existe: Ri-U, cáspita!!)
Temos também nossos dialetos, repleto de italianismos (vide parágrafo anterior). Isso ainda é muito comum por aqui, a despeito dos “véio”, dos “mãnu”, dos “bró” que chegaram sem data pra voltar ao meio do inferno de onde vieram.

Abomino xenofobia, isso tem de ficar muito claro. O que me irrita profundamente é a não valorização de nossas palavras, simples assim. Meu cuidado com isso é tamanho que cheguei a pensar em pedir pra alguém gravar meu colóquio, quando eu estivesse desavisada, para tentar identificar o tal “einto” de que (como todo paulistano) sou acusada. Dizem que falamos “momEInto”, “estacionamEInto” e "EIntEIndEIndo". Puro exagero, mas, para encurtar história, faço de conta que acredito...

5 comentários:

Anônimo disse...

Sabe o que descobri, o paulistanês costuma falar "DESCUPA" e não desculpa! engraçado, né!
Adorei.
Bj
Marcela

Janeisa Tomás disse...

Wan, adorei este texto e fiquei pensando na diversidade de nossa língua, na riqueza de nossa linguística, na variação regional e o quanto toda esta mistura, influenciada tipicamente pelos portugueses, nos permite a inovação de termos e gírias que só nós podemos entender.
Parabéns e um grande beijo!

Anônimo disse...

WanWan, primeiro receba e transmita os parabéns pelo blog.
Segundo, pra mim, que estou bem distante de São Paulo, sempre é um prazer ouvir e ler os "eintos" paulistanos. Nalgumas vezes em que falo ao telefone com alguém de SP, chego até a dizer pra minha secretária (que tem um sotaque pra lá de cantado de goiana): "nossa que sotaque lindo! Quero ouvi-lo todos os dias. Vou embora daqui".
Bjs
F@bio Henrique

Anônimo disse...

Você não tem idéia da falta que sinto dos "meu", dos eintos e eintas, da porta, com aquele erre que treme na língua... Você não tem idéia, meu!! Falta até do "entãou"... Tenho trabalhado muito com cariocas e percebo cada dia mais que o gosto do tomatchi é muito melhor que o do tumati...
Beijocas.

Wania Westphal disse...

não começa, bebê... humpft!! hehehehe saudades...